Por
Reinaldo Canto
Quando
a barragem de Fundão se rompeu, 62 milhões
de toneladas de rejeitos minerais da empresa Samarco em
Mariana escorreram sobre a vida de milhares de pessoas
nos distritos da cidade histórica, ceifando as
vidas de 19 pessoas e causando o maior desastre ambiental
do país, levando sua lâmina vermelha até
o Oceano Atlântico, com ameaça aos mais delicados
ecossistemas marinhos.
Entre
as muitas medidas acordadas para penalizar, responsabilizar
e exigir recuperações e mitigações
socioambientais foi criada a Fundação Renova
em agosto de 2016.
Para
presidi-la foi chamado um profissional conhecido nos meios
ambientais, o biólogo e administrador Roberto Waack,
já havia passado por organizações
como WWF, Instituto Ethos e Fundo Brasileiro para a Biodiversidade,
entre outros.
A
missão não parecia nada fácil, mas
Waack aceitou o desafio e neste um ano e meio já
fez com que a Renova investisse em ações
sociais e ambientais a quantia de R$ 3,2 bilhões.

Roberto Waack, presidente da Fundação
Renova
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A
Fundação Renova participa do 8º Fórum
Mundial da Água para contar um pouco de sua história
e dessa complexa e difícil tarefa de minimizar
os prejuízos causados pelo desastre.
Desde
o início de nossa conversa Roberto Waack já
avisa, a Fundação faz parte do acordo de
ajustamento de conduta e, portanto, não responde
pela Samarco, muito pelo contrário: a Samarco
responde criminalmente e isso não é algo
que diga respeito à Renova. O presidente
da fundação refere-se ao termo que coloca
a fundação como: ente responsável
pela criação, gestão e execução
das ações de reparação e compensação
das áreas e comunidades atingidas pelo rompimento
da barragem do Fundão, conforme detalhado
no seu site institucional.
Waack
conta que os desafios da fundação tem sido
muito grandes: a parte técnica e operacional,
por exemplo, enfrentam questões nunca antes vivenciadas,
como deixar ou não os sedimentos no leito do rio.
Existem técnicos que consideram melhor a retirada
do material e outros afirmam o contrário.
Ele
diz que esse não é o mais difícil
de toda a enorme complexidade socioambiental da Renova,
mas sim a governança: temos mais de 240 pessoas
envolvidas em 11 câmaras técnicas,
além é claro de muitas reuniões com
as comunidades afetadas. O modelo participativo
é mais demorado, mas sem dúvida alcançam
melhores resultados.
Tanto
que do conselho gestor da fundação chamado
de interfederativo participam representantes de órgãos
ambientais dos três níveis federativos (federal,
estaduais e municipais), além do Ministério
Público. Waack destaca que, com certeza,
é um dos maiores programas de monitoramento já
montados no país.
Roberto
Waack acredita que alguns importantes avanços foram
conseguidos durante esse ano e meio de atuação
da Renova, mas sem a ilusão de que se possa festejar
qualquer conquista. Mesmo que as ações de
reparação já tenham recebido aportes
de R$ 3,4 bilhões distribuídos em 42 programas
e projetos, que vão da restauração
ambiental com plantio de milhares de hectares, a recuperação
de nascentes, a manutenção da qualidade
da água na bacia do Rio Doce, a retomada da atividade
econômica dos municípios afetados e o reassentamento
e indenizações de pessoas, entre outros,
as dimensões do desastre não permitem comemorações.
Para
o presidente da Fundação Renova algumas
frentes avançaram melhor que outras. Caso do monitoramento
da qualidade do Rio Doce, nos níveis que
eram antes do desastre, inclusive com relação
a sua turbidez e lembra que a situação
não podia ser considerada boa antes do rompimento
da barragem, 80% dos esgotos das cidades já
eram despejados diretamente no rio.
O
que o executivo considera que avançou pouco foi
a questão do reassentamento das famílias
e parte das indenizações, houve contaminação
nas discussões, ódio da fundação,
o que considero bastante justificável diante das
perdas que essas famílias sofreram. Mas Waack
espera que a questão das indenizações
esteja resolvida até o meio do ano.
De
qualquer maneira ele considera que o começo foi
mais difícil não foi fácil para as
pessoas entenderem que a Renova não é a
Samarco e a Samarco não é a Renova. Quando
começamos assumimos um grande passivo de comunicação,
obviamente não havia como achar algo bom. Eu entendo
perfeitamente às reações da sociedade
e da mídia. Ele só se ressente das
muitas acusações e cobranças aos
funcionários e gerentes da Samarco, acho
que não é justo com as pessoas que se envolveram,
entraram no meio da lama para tentar ajudar.
E
ao participar do Fórum Mundial da Água que
tipo de mensagem a Renova deixa? Esse formato da
Fundação de ampla participação,
onde a sociedade se organiza tem muito a oferecer. Acreditamos
que esse formato seja único no mundo.
Ele
exemplifica: caso houvesse algo como a Renova em
Petrópolis e Teresópolis após os
desmoronamentos ocorridos anos atrás, a história
poderia ter sido outra. Waack se refere ao desvio
de recursos, a precária situação
em que as famílias ficaram e depois a repetição
dos mesmos problemas.
Talvez,
segundo o executivo, o modelo que está sendo testado
para a recuperação do Rio Doce e no apoio
e diálogo com a sociedade, de uma fundação
para gerir os recursos e as ações, possa
servir como modelo para esse tipo de ação.
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